ou palavra sem contexto

segunda-feira, 16 de março de 2009

Poesia e erotismo

La relación entre erotismo y poesía es tal que puede decirse, sin afectación, que el primero es uma poética corporal y la segunda es una erótica verbal.

Estou lendo um livro de um homem mexicano que eu adoro: Octavio Paz. Disse homem porque caracterizá-lo como poeta, filósofo e crítico seria reduzi-lo a isso que todos se pretendem ser. Octavio Paz é homem.

Meu primeiro contato com ele foi já na faculdade, com um livro chamado Signos em rotação, cujos capítulos de leitura obrigatórios eram "Verso e Prosa" e "A imagem". Li centenas de capítulos de livro com os mesmo títulos, de Antonio Cândido aos Formalistas Russos. Mas nenhum me encantou como Paz. Sua escrita era doce, poética e densa demais para quem falaria apanas em verso, prosa e imagem. Nada técnica: inteligente, não tecnicista.
Uma das frases que mais me marcaram quando li o capítilo sobre imagem foi:

"A imagem é cifra da condição humana".

Não sei o motivo, mas essa frase me fez perceber a arte e a estética de forma diferente. Acho mesmo é que eu não precisaria ter lido mais nada sobre imagem se tivesse lido antes essa frase. Ela resume de maneira óbvia a importância da imagem na poesia. Por causa dela, em quase todos os meus trabalhos eu falo sobre a força imagética de determinado poema. E meu namorado detesta quando uso o termo imagético. Mas é o máximo que consigo...

Voltando, o livro que estou lendo chama-se La llama double: amor y erotismo. Há uma tradução para o português, A dupla chama: amor e erotismo e há um exemplar na fflch, mas ele nunca estava lá para mim. Queria tê-lo pedido no primeiro amigo secreto de que participei, mas o pobre está esgotado. Minha única opção foi vasculhar as obras completas dele na biblioteca e xerocar a versão original.
Tanto melhor. Assim parace que o nosso papo é imediato. Sem mediação de ninguém para me dizer como eu deveria entender aquela passagem, ainda mais agora que tradutor ganhou fama de co-autor. U-lá-lá.

O livro, que demorou a ser escrito, fala sobre o amor e uma conexão íntima entre os três domínios: sexo, erotismo e amor.

En 1960 escrbí medio centenar de páginas sobre Sade, en las que procuré trazar las fronteras entre la sexualidad animal, el erotismo humano y el dominio más restringido del amor.

Quem já leu Sade, sabe bem do que ele está falando.

A idéia central é de que o sexo é um ato meramente reprodutivo e típico do universo animal enquanto o erotismo é um ritual que subverte o que o sexo tem de primitivo e animalesco. Daí, ele deve partir para o amor, mas ainda não cheguei lá:

No es extraña la confusión: sexo, erotismo y amor son aspectos del mismo fenómeno, manifestaciones de lo que llamamos vida. El mas antigo de les tres, el más amplio y básico, es el sexo. Es la fuente primordial. El erotismo y amor son formas derivadas del instinto sexual: cristalizaciones, sublimaciones, perversiones y condesaciones que transformam a la sexualidad y la vuelven, muchas veces, incogniscible. Como en el caso de los círculos concéntricos, el sexo es el centro y el pivote de esta geometría pasional.

Lindo, não?

Mas eu dei essa volta toda para mostrar o que na verdade está no ínício do livro. Paz compara os desdobramentos do amor aos desdobramentos da linguagem, e é de chorar quando ele diz : "No me propongo detenerme en las afinidades entre la poesía y el erotismo."
A comparação que ele faz é genial:

La poesia pone entre parêntesis a la comunicación como el erotismo a la reproducción.

Para terminar, vou colocar aqui dois trechos do livro em que Octavio Paz fala sobre a poesia.

Para mi, la poesía y el pensamiento son un sistema de vasos comunicantes. La fuente de ambos es mi vida: escribo sobe lo que he vivido y vivo. Vivir es también pensar ym a veces, atravesar esa frontera en la que sentir y pensar se funden: la poesía.

La realidad sensible siempre ha sido para mí una fuente de sorpresas. También de evidencias. En um lejano artículo de 1940 alusí a la poesía como “el testimonio de los sentidos”. Testimonio verídicvo: sus imágenes son palpables, visibles y audibles. (...) Rimbaud diji: Et j’ai vu quelques fois ce que l’homme a cru voir. Fusion de ver y creer. En la conjunciós de estas dos palabras está el secreto de la poesía y de sus testimonios: quello que nos muestra el poema no lo vemos con nuestros ojos de carne sino con los del espíritu. La poesia nos hace tocar lo impalpable y escuchar la marea del silencio cubriendo un paisaje devastado por el insomnio. El testimonio poético nos revela otro mundo dentro de este mundo, el mundo otro que es este mundo.

E, claro, não poderia faltar a explicação que o próprio autor dá ao título do livro. E duvido que com ela alguém seja capaz de negar sua leitura:

Según el Diccionario de autoridades la llama es "la parte más sutil del fuego, que se eleva y levanta a lo alto en figura piramidal". El fuego original y primordial, la sexualidad, levanta la llama roja del erotismo y ésta, a su vez, sostiene y alza otra llama, azul y trémula: la del amor. Erotismo y amor: la llama doble de la vida.
(prefácio de 1993)


E vai tanbém um poema que uma aluna, a Coisinha, achou dele.

Silencio

Así como del fondo de la música
brota una nota
que mientras vibra crece y se adelgaza
hasta que en otra música enmudece,
brota del fondo del silencio
otro silencio, aguda torre, espada,
y sube y crece y nos suspende
y mientras sube caen
recuerdos, esperanzas,
las pequeñas mentiras y las grandes,
y queremos gritar y en la garganta
se desvanece el grito:
desembocamos al silencio
en donde los silencios enmudecen.


http://www.poemas-del-alma.com/octavio-paz.htm

Paz, Octavio. La llama doble: amor y erotismo. In: Ideas y vislumbres II - usos y símbolos. Edición del autor. Fondo de Cultura Económica. 2ª ed.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Orfeu, Eurídice, Hermes

Eram as minas ásperas das almas.
Como veios de prata caminhavam
silentes pela treva. Das raízes
brotava o sangue que parece aos vivos,
na treva, duro como pórfiro. Depois
nada mais foi vermelho.

Somente rochas,
bosques imateriais. Pontes sobre o vazio
e o lago imenso, cinza, cego,
que sobre o fundo jaz, distante, como
um céu de chuva sobre uma paisagem.
Por entre os prados, suave, em plena calma,
deitado, como longa veia branca,
via-se o risco pálido da estrada.

Desta única via vinham eles.

À frente o homem com o manto azul,
esguio, olhar em alvo, mudo, inquieto.
Sem mastigar, seu passo devorava a estrada
em grandes tragos; suas mãos pendiam
rígidas, graves, das dobras das vestes
e não sabiam mais da leve lira
que brotava da ilharga como um feixe
de rosas dentre ramos de oliveira.
seus sentidos estavam em discórdia:
o olhar corria adiante como um cão,
voltava presto, e logo andava longe,
parando, alerta, na primeira curva,
mas o ouvido estacava como um faro.
Às vezes parecia-lhe sentir
a lenta caminhada dos dois outros
que o acompanhavam pela mesma senda.

Mas só restava o eco dos seus passos
a subir e do vento no seu manto.
A si mesmo dizia que eles vinham.
Gritava, ouvindo a voz esmorecer.

Eles vinham, os dois, vinham atrás,
em tardo caminhar. Se ele pudesse
voltar-se uma só vez (se contemplá-los
não fosse o fim de todo o empreendimento
nunca antes intentado) então veria
as duas sombras a seguir, silentes:

o deus das longas rotas e mensagens,
o capacete sobre os olhos claros,
o fino caduceu diante do corpo,
um palpitar de asas junto aos pés
e, confiada à mão esquerda: ela.

A mais amada, essa por quem a lira
chorou mais que o chorar das carpideiras,
por quem se ergueu um mundo de chorar,
um mundo com florestas e com vales,
estradas, povos, campos, rios, feras;
um mundo-pranto tendo como o outro
um sol e um céu calado com seus astros,
um céu-pranto de estrelas desconformes -
a mais amada.

Ia guiada pela mão do deus,
o andar tolhido pelas longas vestes,
ncerto, tímido, sem pressa .
Ia dentro de si, como esperança,
e não pensava no homem que ia à frente,
nem no caminho que subia aos vivos.
Ia dentro de si. E o dom da morte
dava-lhe plenitude.
Como um fruto em doçura e escuridão,
estava plena em sua grande morte,
tão nova que não tinha entendimento.

Entrar em uma nova adolescência
inviolada. Seu sexo se fechava
como flor em botão ao entardecer
e suas mãos estavam tão distantes
de enlaçar outro ser que mesmo o toque
levíssimo do guia, o deus ligeiro,
a magoava por nímia intimidade.

Não era mais a jovem resplendente
que ecoava nos cantos do poeta,
nem o aroma do leito do casal
nem ilha e propriedade de um só homem.

Estava solta como os seus cabelos,
liberta como a chuva quando cai,
exposta como farta provisão.

Agora era raiz.

E quando enfim o deus
a deteve e, com voz cheia de dor,
disse as palavras: “Ele se voltou.” -
ela não compreendeu e disse: “Quem?”

Mas pouco além, sombrio, frente à clara
saída, se postava alguém, o rosto já não reconhecível. Esse viu
em meio ao risco branco do caminho

o deus das rotas, com olhar tristonho,
volver-se, mudo, e acompanhar o vulto
que retornava pela mesma via,
o andar tolhido pelas longas vestes,
incerto, tímido, sem pressa.


Rilke – Poesia-CoisaTradução: Augusto de Campos

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Sinfonia de Blogs

Música erudita gratuita ganha espaço na web com a difusão de páginas ambiciosas, temáticas e com discurso antipirataria

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois do YouTube, das rádios via web e das redes de compartilhamento peer-to-peer, agora a blogosfera também está sendo usada como meio de difusão gratuita de música erudita. Blogueiros de todo o planeta estão compartilhando suas coleções de discos, colocando-as para download.

Não é preciso ser um expert para conseguir baixar os CDs -basta clicar no link para download, que remete a um servidor no qual os discos estão armazenados. A única dificuldade é que eles normalmente chegam em formato .rar, compactado. Para descompactá-los, é só baixar o 7-zip, um programa gratuito, desenvolvido como software livre, mas que roda em Windows, e que pode ser obtido em http://www.7-zip.org/.

Um dos mais ambiciosos blogs nesta área se chama, sugestivamente, Libros Libres Música Libre (libroslibresmusicalibre.blogspot.com).

Gerenciado por um coletivo que reverencia a memória do educador mexicano Rubén Vizcaíno Valencia, o blog disponibiliza para download gratuito as obras completas de Bach e Beethoven, integrais sinfônicas de Mahler, Bruckner, Tchaikovski e Nielsen, a música de câmara de Brahms e todo o legado fonográfico da soprano Maria Callas, entre outras preciosidades.

Há blogs que se centram em áreas de interesse temático. O italiano Brainle de Champaigne (passacaille.blogspot.com), por exemplo, traz vasto acervo de música medieval, renascentista e barroca, enquanto o argentino Il Canto Sospeso (ilcantosospeso.blogspot.com) está centrado na música dos séculos 20 e 21.

No Brasil, vale especial menção PQP Bach (pqpbach.opensadorselvagem.org), um blog bem-humorado, com diversos colaboradores, textos sobre compositores e intérpretes e oferta bastante diversificada; e o Brazilian Concert Music (musicabrconcerto.blogspot.com), exclusivamente focado na música erudita de autores nacionais, levando ao ar muitos discos que não foram lançados comercialmente e até itens que jamais mereceram edição em CD.

"Caráter cultural"

Todos esses blogs dizem não promover a pirataria, pois não cobram pelo acesso aos discos. Com algumas variações, suas páginas de entrada costumam dizer mais ou menos a mesma coisa: que o caráter dos blogs é meramente cultural e de divulgação; e que, tendo gostado do que baixaram, os internautas devem sempre comprar os CDs originais, cuja qualidade de áudio é superior à dos downloads.

Blogs como PQP Bach e Music Is the Key (orchestralworks.blogspot.com) colocam, ao lado da opção para download gratuito, um link para a compra do CD na loja virtual Amazon (http://www.amazon.com/). E a página de entrada do Brazilian Concert Music pede a quem se sentir ofendido ou prejudicado com o conteúdo de alguma postagem que avise por e-mail os administradores do blog, que se comprometem a tirá-la do ar.

Não é impossível que na origem de tal precaução esteja o destino do Sombarato, blog especializado em música popular brasileira, com um acervo superior a 2.000 títulos, que teve mais de milhões de acessos em um ano e meio, antes de ser tirado do ar, em setembro do ano passado, pelo Google, devido a ação judicial da gravadora Biscoito Fino.

A base jurídica para tirar o blog do ar foi o Digital Millennium Copyright Act (DMCA), aprovado em 1998, nos Estados Unidos. Entre outras medidas, o DMCA permite que detentores de direitos autorais solicitem aos provedores de serviços on-line que bloqueiem o acesso ou retirem de seus sistemas conteúdos que violem direitos autorais.